IVONEI FALA SOBRE AS 207 HORAS DE PRISÃO, ONDE CHOROU

JANAÚBA (por Oliveira Júnior) – 7 horas da manhã do dia 20 de setembro de 2011. Esse foi o início do martírio pelo qual Ivonei Abade Brito, 59 anos, viveu ao ficar 207 horas detido na cadeia de Montes Claros. Ele foi solto na noite do dia 28. Então diretor-geral do ITER-MG (Instituto de Terras de Minas Gerais), Ivonei foi preso por agentes da Polícia Federal num apartamento, em Montes Claros, durante a operação desenvolvida pelo Ministério Público do Estado com relação à grilagem de terras no Norte de Minas, principalmente nos municípios de São João do Paraíso, Indaiabira e Rio Pardo de Minas.

         Na manhã de sábado, dia 1º de outubro, o ex-diretor do ITER-MG, Ivonei Abade, concedeu entrevista ao jornalista Oliveira Júnior, na rádio Onda Norte 103,9 FM, em Janaúba, e relatou sobre a prisão, o possível envolvimento com a fraude de venda de terras e também sobre o futuro político dele que foi prefeito de Janaúba por dois mandatos consecutivos (2001 a 2008).

Foto Oliveira Júnior

Ivonei Abade Brito em entrevista na rádio Onda Norte 103,9 FM no dia 1º de outubro de 2011.

COMO ACONTECEU

"Fui preso pela Polícia Federal às 7 horas da manhã no apartamento, onde estava com minha esposa, em Montes Claros. Os policiais estavam sem uniformes e com veículos sem logotipo da PF e me levaram sem algemas para cumprir um mandado de prisão expedido pela juíza da Comarca de São João do Paraíso”.

IVONEI FOI AMEAÇADO

         Ivonei comandou as operações de legalização de terras urbanas e rurais do estado de Minas Gerais a mando do governador Antônio Anastasia. “Tomei posse no ITER-MG em 22 de março de 2011”, alega o ex-prefeito ao considerar que a operação "Grilo" realizada pela PF e pelo Ministério Público do Estado tratava-se de possíveis irregularidades no ITER no período de 2007 a agosto de 2010.

No dia 18 de abril, sobre orientação do então secretário estadual para assuntos fundiários, Manoel Costa, o diretor-geral do ITER (Ivonei) foi a São João do Paraíso, Indaiabira, Rio Pardo de Minas e moveu 37 ações para cancelar títulos supostamente irregulares. Isso criou revolta em algumas pessoas que estavam envolvidas no processo.

“Fui ameaçado por duas pessoas (não revelou os nomes) que tentaram atrapalhar as investigações, sendo necessária a intervenção da Polícia Militar”, explicou Ivonei. Ele participou de uma reunião com a associação, com pessoas humildes, pobres, pequenos proprietários que não tinham o título de posse. "A nossa ação tinha o conhecimento por parte do Ministério Público e do Judiciário da região".

INDIGNAÇÃO E REVOLTA

"Não me esclareceram o porquê eu fui preso". Dessa maneira tem expressado o ex-prefeito de Janaúba ao considerar que ficar preso, atrás de uma grade, com criminosos, em lugar muito desconfortável, seja normal. “O pior de tudo é quando você chega num lugar e fala ‘estou aqui injustamente’. Não teria que está aqui. Nunca imaginei na minha vida está aqui, pois sobre orientação dos meus pais sempre busquei a construção do meu caráter”, citou Ivonei ao acrescentar que “no momento que se tem a consciência tranqüila e passa por essa situação é evidente que causa tristeza, indignação, revolta, depressão".

IVONEI CHOROU

         O ex-diretor do ITER-MG diz que chorou copiosamente por três dias, na cadeia. Ele se revoltou ao saber que a esposa, as filhas, a mãe, os irmãos, os amigos sofriam com a sua prisão. “Mas, acredito muito em Deus. Tive muita força e apoio lá na cadeia”. Ivonei disse que a partir do terceiro dia ficou muito tranqüilo.

PÁGINA VIRADA

Quanto à imagem negativa referente à sua prisão, Ivonei diz que irá carregar essa indignação pelo resto da vida. "Classifico como uma página virada, pois volto às minhas atividades normais, cuidar da minha vida e viver ela mais prazerosa possível".

TRISTEZA

         Segundo Ivonei Abade, o momento triste na cadeia "foi no primeiro dia. Fiquei na enfermaria, numa cela sem grade, mas com porta e uma pequena brecha. Ás quatro horas da madrugada chegou uma pessoa (homicida, traficante) baleada e mandaram-me cuidar dele”.

FUTURO POLÍTICO

"Neste momento tenho que preocupar com a minha família, comigo e com os meus amigos. Não quero, neste momento, falar de trabalho, de política. Acho que o momento é inoportuno. Quero muito que, no ano que vem, a população de Janaúba saiba escolher entre aqueles que vão disputar”, declarou Ivonei Abade ao acrescentar que “neste momento quero descansar porque esses 9 dias (na prisão) foram os 9 dias mais terríveis da minha vida".

LIBERDADE

         Para o ex-prefeito a maior indignação não é de ter ido para a cadeia, mas sim, porque até agora (sábado, dia 1º) ninguém lhe explicou porque foi preso. Com relação ao fato de ter sido decretada a sua prisão temporária por cinco dias e prorrogável por mais cinco dias (ele saiu no 9º dia), Ivonei declarou que o seu advogado constatou a inexistência de inquérito policial e, diante disso, sensibilizou a juíza a libertar o ex-prefeito.

         Ivonei explicou que caberá ao seu advogado o procedimento a ser adotado para possível punição contra a sua prisão indevida.